A estética como disfarce: eu aprendi a parecer são.
- soulnicco
- 8 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jul.
ATO I - O VÉU
Polido, controlado, editorial
Há uma linha tênue entre o que é arte e o que é performance de controle.
Aprender a construir beleza foi meu jeito de controlar. Um templo feito de textura certa, luz calculada, silêncio bem posicionado.
Eu aprendi a fazer sentido...
Demais.
Talvez você também tenha aprendido:
a parecer funcional, a parecer são.
A vestir elegância como se fosse segunda pele,
e torcer pra ninguém perguntar o que ainda vibra por baixo.
Não é apenas sobre a estética como disfarce, mas uma forma de se manter em pé.
E por mais que pareça bonita por fora,
ela tem um custo e às vezes é você quem paga.

ATO II - A FRESTA
A superfície começa a rachar
Toda forma refinada carrega fissuras.
Algumas são invisíveis,
outras inevitáveis.
A beleza que eu moldava com precisão também me restringia.
Ela salvou do excesso: me deu nome, direção e função.
Mas o que acontece quando a contenção começa a vazar?
Você já sentiu isso?
Um desconforto que não tem mais onde se esconder
e começa a pulsar por dentro.
Sinto o bicho sob a pele.
O que queria gritar, gozar, desaparecer.
O que domestiquei com estética,
com digestão social.
E agora morde devagar e pede voz.
ATO III - O ESPELHO
O eu lírico em combustão
E você?
Também aprendeu a parecer são?
já se vestiu de sobriedade pra esconder o caos queninguem vê?
Se sim, bem vindo.
Você também tem frestas,
e nelas, o mesmo fogo arde.
ATO IV - SANGUE RITUAL
Hedonismo, prazer, fome
eu era só pulsação.
corpo em fuga, gozo como anestesia.
me entregava ao que entorpecia,
pra não lembrar quem eu era.
me deitei com chamas que não eram minhas, porque acenava como abrigo.
como quem se preenche só pra não sumir.
E depois veio o artista.
Comecei a limpar
Controlar
Criar
O talento de fazer tudo parecer curado (e não tô falando de curadoria artística).

ATO V - O MAGO
a integração do preto e do branco
e foi aí que eu entendi:
não sou um artista elegante.
sou mago quando aceito o caos como mestre.
um mago do caos que aprendeu a fazer do próprio fogo um bisturi.
eu crio por necessidade, porque rasgar algo em mim ainda é a forma de res—pirar.
a estética é só armadura.
mas é o caos que segura a espada.
e se tudo já foi dito, o que importa é o que fazemos com o que ainda sangra nas mãos.
ATO VI - A INVOCAÇÃO
a ancestralidade visceral que grita
se você chegou até aqui,
então você sabe...
tem um bicho aí dentro também.
tentando parecer tudo certo, né?
talvez esteja mesmo, mas me responde:
quantas vezes você calou o grito pra caber em algum lugar?
quantas versões suas você matou
só pra manter a compostura diante de desrespeito?
abre o peito agora e lê isso em voz baixa:
aceito que olhar pras minhas sombras dói
aceito ver o que escondi
de mim
(agora respira fundo. arde.)
a resposta vem quando você parar de procurar.
ATO VII - o fogo calmo
não é calmaria. é silêncio que arde.
Meu nome é Nicco.
E se você achou que isso era só um artigo, você subestimou o fogo.
Isso é um ritual de exposição,
por um artista que aprendeu a escrever com as cinzas.
Com a beleza visceral e crua,
de alguém que entendeu que o sentido não vem antes. Ele vem depois.
Se dê o luxo de errar,
de recalcular e recomeçar.
De ser desimportante.
Quando você ousar atravessar o fogo sem máscara,
a sua tribo vai reconhecer o cheiro da sua fumaça.
E a pergunta que fica é:
Quem realmente tem coragem de mergulhar na própria escuridão pra evoluir?
Agora sem medo,
deixe queimar.
Comments